Estava conduzindo meu veículo pela Avenida Augusto Maynard, quando tive que parar no semáforo da Praça Tobias Barreto, em frente à Igreja São José. Fiquei concentrado à espera do sinal verde, quando olhei à direita e vi um vendedor de jaca. Aparentemente, nada de pitoresco, pois é comum vermos em nossa capital alguns ambulantes, principalmente nos meses de janeiro, fevereiro, vendendo a fruta verde ou amarelo- ferrugem, quando bem madurinha.
Embora já tivesse visto aquela cena várias vezes, desde a minha infância, e embora também já tenha comido muita jaca debaixo das jaqueiras, uma indagação veio à tona. Comecei a me perguntar se em outras capitais também existem vendedores ambulantes como aqueles, que empuram carros feitos de madeira vendendo a jaca já cortada, pronta para ser degustada.
Fiquei pensando: mas que coisa interessante, estamos no século XXI e ainda presenciamos esse acontecimento na rua de uma capital do Brasil. A rusticidade da fruta parecia contrastar com a época em que vivemos, sobretudo porque à frente do vendedor estava um rapaz com características EMO comprando um pedaço de jaca (EMO - sujeito conceituado pelo senso comum como pessoa sentimental, que usa cabelos com franja na testa e usa maquiagem- bem século XXI, embora ache que lembrem bem gêneros do romantismo ou do estilo gótico).
O semáforo acusou o sinal verde, então prosegui guiando o automóvel pelas ruas do Bairro São José, mas o meu pensamento não fugia do tema jaca. Comecei a refletir e logo chegei à conclusão de que a jaca é uma iguaria para nós aracajuanos; é lógico que não podemos concorrer com os lagartenses, carinhosamente apelidados de papa-jaca, mas de fato é um privilégio degustar um pedaço de jaca, principalmente os vendidos pelos ambulantes, que sabem tirar o naibo do fruto como ninguém e limpar o visgo branco que escorre com intensidade.
Eles sabem cortar a jaca de um jeito que ela fica mais gostosa e sabem limpar tão bem os bagos, que o sujeito põe a mão na massa e depois de comer não precisa sequer usar óleo de cozinha para limpar as mãos; é um verdadeiro fast-food.
Delícias à parte, o fato é que os vendedores não deixam de vender todo o seu estoque. Primeiro pedem cinco, quatro e chegam a baixar para três reais a tira da jaca. É um dinheiro duro, pois quem se arrisca nesse ramo tem que arrastar aqueles carrinhos pesados, ora dividindo espaço com os veículos automotores, ora driblando a fiscalização municipal.
Além disso, ninguém sabe o caminho percorrido pelas frutas até chegar na capital. Lembro-me que em uma das minhas andanças pelo interior, presenciei a negociação dos vendedores com um proprietário de sítio que possuía várias jaqueiras.
Naquela ocasião, vendeu-se a carga da jaqueira por completo. O agricultor estipulou um valor e o ambulante teve o direito de colher todas as jacas. Para retirá-las do pé, uma pessoa subia e amarrava uma corda no cotoco que segura o fruto à árvore. Após amarrá-la, cortava-se o cotoco e soltava-se a corda entrelaçada no tronco da jaqueira, bem devagar, até que o sujeito que estava embaixo da fruteira conseguisse pegar a fruta.
O transporte dos frutos é feito de caminhão, ou no bagageiro dos ônibus que fazem o transporte intermunicipal. Não é preciso comentar, mas supõe-se que os passageiros não gostem muito, pois além das paradas corriqueiras nos povoados e da superlotação, é necessário esperar até que todas as frutas sejam colocadas nos bagageiros.
Quando o fruto chega na capital os ambulantes ainda têm que cortá-lo e limpá-lo, o que nem todo mundo sabe fazer. Depois é só vender a jaca que pode ser degustada retirando os bagos.
Pois é, fiquei a pensar sobre esse assunto até chegar em minha residência, confesso que senti-me um turista a buscar no cotidiano uma cena pitoresca. Ao menos no meu pensamento aquilo era pitoresco, pois é uma cena da nossa Aracaju que fica em nosso imaginário. Afinal, quem é que não gosta de uma jaca, seja dura ou seja mole?
Aracaju, 05 de abril de 2010
Gonçalo Ribeiro de Melo Neto
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