sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mordida de gente é pior que mordida de gato.

 

Mas que droga, não é possível, justamente agora! Exclamava, irritado, após vasculhar a agenda do meu telefone celular. Procurava o número do telefone de um amigo que tivera se formado em medicina há alguns meses e não encontrava; estava ansioso e precisava esclarecer uma questão que estava consumindo o meu juízo.

Procurava repetidamente, subindo e descendo na escala alfabética da agenda , até que me dei conta do papel de idiota que estava a representar. Afinal, qual a utilidade prática de se saber se a mordida de gente é pior do que a de um gato?

Isso mesmo, estava disposto a incomodar um amigo e perguntar: fulano, qual a mordida que causa maior infecção, a mordida de gato ou a de gente?. Ainda bem que não tinha o número telefônico do meu amigo médico naquele momento. Depois lembrei que um veterinário poderia responder aquela pergunta, mas me contive e deixei de ligar para Marx, amigo veterinário cujo telefone sabia de cor.

Tudo começou quando entrei em uma loja na Avenida Sete de Setembro e encontrei Dorgival. Ao cumprimentá-lo, não pude apertar a sua mão, que estava inchada e vermelha, com a aparência de inflamada. Curioso e preocupado, perguntei o que havia causado aquela inflamação e então Dorgival respondeu que havia sido mordido por um gato.

- Mas um gato? Perguntou o vendedor que estava atendendo Dorgival. - Foi um gato mesmo; tem três meses que fui mordido e a ferida ainda não cicatrizou. Respondeu Dorgival. - - Fi do canço! exclamou o vendedor.

Fiquei surpreso em saber que um gato era capaz de causar tanto estrago; depois lembrei de Dona Zezé, uma velhinha que havia sido mordida por um gato e tivera que amputar a perna.

Não dei muita credibilidade àquela história. Dorgival era um grande piadista e sempre colocava os amigos em pegadinhas, depois ficava mangando dos que caíam em suas anedotas, porém, não descartei a hipótese de a versão ser verdadeira. Deixei a conversa fluir e fiquei prestando atenção.

O vendedor não deixava de fazer perguntas, esquecera até de atender à clientela que chegava à loja para satisfazer a sua curiosidade. Em meio a perguntas e respostas, Dorgival soltara a pérola que estava me consumindo:

- Você sabia que a mordida de gente é pior do que a de animal? O médico que me atendeu, me disse que vai muito homem em seu consultório para tratar de mordida de mulher e que dá muito trabalho cuidar desse tipo de ferida.

Mas que história maluca! Seria possível haver tantos casos de homens mordidos por mulheres? Fiquei pensando, mais uma vez, se essa história seria verdadeira; Dorgival jurava ser verdade e o pior, ainda explicava que eram as bactérias da boca que causavam a infecção.

Retrucando Dorgival, o vendedor parecia familiarizado com aquele tipo de notícia, dizendo: - É isso mesmo, eu já levei mordida de mulher e é bem pior, passei foi cinco meses com a infecção, tomando bezetassil. -Você já foi azunhado por mulher? É outra coisa ruim! Exclamou o vendedor.

Dorgival e o vendedor pareciam amigos de longa data e conversavam durante uns vinte minutos. Conversavam e me deixavam de escanteio. Também, confesso, não entendia do assunto.

Terminada a conversa, despedi-me de Dorgival e do vendedor, ainda sem acreditar muito na história da mordida do gato, mas um sentimento curioso e incontrolável: queria saber qual a mordida pior, se a do gato ou a do ser humano. Foi quando tentei ligar para meus amigos...

Gonçalo Ribeiro de Melo Neto

Aracaju, 15 de abril de 2010.

Um comentário:

  1. Gonçalo aonde você arranja tanta criatividade? Me dê o endereço.
    Muito bacana a história, criatividade demais!
    Sem falar da participação especial de Marx na história...
    Parabéns aos autores do blog, bastante criativo!

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