sexta-feira, 12 de março de 2010

Regressão

Hoje acordei pela tarde e resolvi folhear uma agenda antiga que estava em meu quarto devido a uma mudança que estavam fazendo em um cômodo da casa. Havia uns oito anos que não a abria; passei a ler o que estava escrito nas suas páginas e lembrei que me utilizava dela para escrever as minhas primeiras poesias.

Em meio àquelas páginas amarelas, passei a debruçar-se sobre as minhas impressões. Comecei a me lembrar de cada tema que me havia inspirado a escrever; os temas eram do cotidiano, porém, o que mais chamava atenção era que a essência daqueles escritos, pois estavam a retratar a minha visão sobre a realidade social, a exclusão, o egoísmo, o individualismo.

Comecei a sorrir de mim mesmo e comparar o meu escrever de hoje com o daquele tempo, pois realmente há claras diferenças. A leitura daquele achado passou a ser prazerosa, e comecei a catar, no meio da agenda, para ver se havia mais alguma coisa escrita, afinal de contas não eram muitas as poesias e por sorte havia encontrado de forma inesperada, em meio a tantas coisas velhas, meus primeiros escritos.

No meio dos poemas havia um texto sem título. Iniciei a leitura sem dar importância, afinal, lembrei que havia escrito aquele texto de primeira, a caneta e sem passar a limpo. Que boa surpresa tive!

O texto falava de dois tipos de evolução: a evolução científica e a evolução social- espiritual. Era uma crítica feroz à afirmação “de que somos evoluídos”. Em síntese, concluía-se: “o que mede a evolução humana não é simplesmente o que ela produziu de tecnologia, de novidades, sim o que ela desenvolveu para o bem dos seres humanos, o que ela utilizou como forma de adiantar o desenvolvimento de todos aqueles que querem desenvolver suas vidas com dignidade”

Meu Deus! Passei a me comparar e ver como eu pensava naquele tempo. Aliás, como tinha tempo para pensar e como valorizava isso. Estava no segundo período do Curso de Direito à época. Lembro que eu participava de congressos e dava as minhas opiniões, participava de um Grupo de Extensão. Posso dizer que era bem crítico e tinha uma consciência questionadora.

Que experiência saudável foi abrir aquela agenda e ver ali registrado o meu pensamento. Logo veio em mente a voz de meu amigo Tiago Carvalho, que diz mais ou menos assim “nós deveríamos escrever o nosso dia- dia em diários. Não temos essa cultura, que para a nossa sociedade é um hábito feminino, mas que é muito importante para construirmos a história do cotidiano”.

É verdade. Pude constatar que é importante escrevermos sempre sobre o que está acontecend. Além de ser um boa prática literária, podemos nos comparar e fazer uma auto avaliação se mudamos o nosso modo de ver o mundo para melhor ou para pior. No meu caso, assim como outras pessoas que se dedicam ao estudo de uma ciência técnica, percebo que não sou mais tão crítico, mas que devo voltar a exercitar essa característica.

Percebo que devo ressuscitar e voltar a pensar. Afinal, como eu mesmo disse no ano de 2002: “antigamente, para que uma pessoa fosse manipulada utilizava-se diretamente da força física. Entretanto, percebe-se, atualmente, o anestesiamento da população por meio da propaganda, da televisão , de efeitos sonoros, visuais. Tudo que é dito nas telinhas ou nas rádios fazem com que as pessoas creiam em falsos princípios de vida, de felicidade”

Gonçalo Ribeiro de Melo Neto

Aracaju, 03 de março de 2010

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